acessibilidade

Início do conteúdo da página
Agosto
11
2022

Tempo entre diagnóstico e início do tratamento de câncer de pele reflete disparidades no acesso à saúde no Brasil

  Atualizada: 11/08/2022

ufgd


A desigualdade social entre as regiões brasileiras afeta diretamente o direito de acesso à saúde das pessoas com melanoma cutâneo, tipo de câncer de pele mais grave que existe. Entre o diagnóstico e o primeiro tratamento, os moradores do Norte são os mais prejudicados com a demora para receber radioterapia ou tratamento sistêmico (quimioterapia ou imunoterapia), e as regiões Norte e Centro-Oeste são as que menos possuem unidades de tratamento, é o que aponta o artigo científico “Time-to-treatment initiation for cutaneous melanoma reflects disparities in healthcare access in Brazil: a retrospective study”, publicado na conceituada revista inglesa Public Health.

 

Com o título que pode ser traduzido como “Tempo para início de tratamento para melanoma cutâneo reflete disparidades no acesso à saúde no Brasil: um estudo retrospectivo”, o artigo foi publicado por pesquisadores da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Instituto Nacional do Câncer (INCA). O estudo analisou a associação entre as características sociodemográficas, clínicas e de atendimento com o tempo entre o diagnóstico e o início do primeiro tratamento do melanoma cutâneo no Brasil que, de acordo com a Lei 12.732, em vigor desde 2013, deve ser de até 60 dias. Foram analisados 12.783 casos de melanoma cutâneo registrados na base de dados dos Registros Hospitalares de Câncer (RHC) durante os anos de 2009 a 2017.

 

Segundo Gabriela Shimada, uma das pesquisadoras envolvidas, o tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento é um dos fatores que mais influenciam na diminuição da mortalidade e dos agravos decorrentes do câncer. Mas o resultado não foi dos melhores: os dados do estudo mostram que não houve diferença no tempo de atendimento antes e após a Lei. “Infelizmente, as análises estatísticas apontam que o tempo excede o previsto em Lei para 1/3 das pessoas diagnosticadas com este tipo de câncer de pele, que é extremamente agressivo”, complementou outra das pesquisadoras, Mirian de Souza.

 

Os pesquisadores também concluíram que homens costumam receber tratamento mais cedo do que as mulheres. Analfabetos e pessoas com ensino fundamental incompleto demoram mais para ter acesso ao primeiro tratamento do que quem possui maior grau de escolaridade e o critério faixa etária não mostrou diferenças significativas. Mas o que chamou muito a atenção foi que a frequência dos residentes na região Norte do país que iniciaram tratamento do melanoma após 60 dias é quase o dobro dos que iniciaram dentro do previsto em lei. Esses dados refletem as desigualdades sociais e regionais no acesso à saúde e ressaltam a importância de medidas de saúde efetivas em todo o território, a fim de diminuir as desigualdades na assistência médico-hospitalar ao câncer no Brasil.

 

Um dos fatores que causa a demora no tratamento é a pequena quantidade de clínicas e hospitais para tratamento de câncer em boa parte das regiões do país. Ao analisar a quantidade de unidades de tratamento por habitantes, o pesquisador Archanjo da Mota avaliou que “a espacialidade da assistência aos usuários dos serviços oncológicos no território nacional é desigual e evidencia a disparidade regional da formação socioespacial brasileira”.

 

Os Registros Hospitalares de Câncer (RHC) estão presentes em todas as regiões do país, mas 46.6% se concentram na região Sudeste. A região Sul conta com 21% dos RHC e o Nordeste, com 19.3%. Já as regiões Centro-Oeste e Norte são as que apresentam a menor concentração, com 8.7% e 4.4%, respectivamente. Uma diferença absurda foi notada no estado do Pará, localizado na região Norte, que possui apenas um RHC para aproximadamente 2,1 milhões de habitantes, enquanto os estados da região Sul possuem um RHC para cada 235 mil habitantes. Para a pesquisadora Sara Bernardes, “a identificação das características dos casos de melanoma cutâneo registrados nos RHC podem auxiliar no delineamento de estratégias de Saúde Pública mais específicas para o tratamento precoce do câncer de maneira geral”.

 

Além dos resultados divulgados neste estudo, os pesquisadores das pós-graduações em Ciências da Saúde e em Geografia da UFGD orientam novo estudo para o aprofundamento das análises na região Centro-Oeste, abordando o melanoma e outros tipos de câncer de pele, buscando compreender como os fluxos para tratamento em outros estados da região e para as outras regiões do país impactam o início do tratamento e a mortalidade por estas causas específicas nos estados da região Centro-Oeste.

 

A equipe que realizou o estudo é multidisciplinar, envolvendo pesquisadoras da área da Saúde: enfermeira Gabriela Duarte Pereira Shimada, mestre pelo Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde (PPGCS) da UFGD; professora doutora Sara Santos Bernardes, farmacêutica, que atua no (PPGCS) e no Instituto de Ciências Biológicas da UFMG; doutora Mirian Carvalho de Souza, estatística, pesquisadora no INCA; e o professor doutor Adeir Archanjo da Mota, docente credenciado ao Programa de Pós-graduação em Geografia da Faculdade de Ciências Humanas da UFGD.

 

O artigo pode ser lido na íntegra, gratuitamente, até o dia 7 de setembro, pelo link: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0033350622001639?dgcid=coauthor 

 

Jornalismo ACS/UFGD

 



    Fotos